Ministério da Saúde implanta clínica farmacêutica no SUS*
Projeto piloto está sendo realizado em Curitiba e em breve deve seguir para outras cidades do país
Depois de um período conturbado com a
perda do pai e de um filho, o coração de Cláudio Daniel Lemos de 53
anos, morador da região metropolitana de Curitiba (PR) pediu socorro.
Além da cirurgia de ponte de safena, o pedreiro passou a ingerir
diariamente 13 comprimidos, aliados no tratamento da depressão,
colesterol e problemas cardíacos.
Administrar tantos medicamentos se
tornou um desafio. Analfabeto, Cláudio começou a confundir os remédios e
os horários para cada medicação. Contrariando a prescrição médica,
parou de tomar os comprimidos.
Quem identificou o problema durante uma
consulta foi a farmacêutica da rede municipal de saúde de Curitiba,
Linda Tieko. A solução que ela achou para resolver a questão foi
simples: separar os medicamentos em envelopes com desenhos de um sol e
uma lua que ajudaram seu Cláudio a saber quais os medicamentos deviam
ser tomados pela manhã, na hora do almoço ou à noite.
Em Curitiba, os moradores que utilizam
os serviços das unidades básicas de saúde e que tomam mais de que cinco
medicamentos ao dia passaram a ter um atendimento diferenciado. O
Ministério da Saúde queria começar a aplicar no SUS o conceito de
clínica farmacêutica e achou na rede municipal de saúde de Curitiba um
parceiro ideal para a criação de um projeto piloto que, uma vez
aprimorado, poderia ser aplicado em qualquer cidade do país. Acostumados
a frequentarem apenas as consultas com médicos, os moradores poli
medicados foram convidados a se consultarem também com farmacêuticos.
Uma mudança significativa na rotina dos usuários do SUS e dos próprios
farmacêuticos.
O Projeto de Cuidado Farmacêutico na
Atenção Básica faz parte do Programa de Qualificação dos Serviços
Farmacêuticos (QualifarSUS), do governo federal e recebeu investimento
de R$ 600 mil. O trabalho foi financiado por meio do projeto Qualisus
Rede – cooperação entre o Banco Mundial e o Mistério da Saúde que tem
como proposta de intervenção apoiar a organização de redes de atenção à
saúde no Brasil.
Desde a implantação em abril de 2014, já
foram realizadas mais de 2.500 consultas em 54 unidades de saúde. O é
número quase três vezes maior que as 868 realizadas em 2013, e seis
vezes superior as 439 consultas realizadas em 2012. A parceira entre o
Ministério da Saúde e a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba
permitiu que 45 profissionais fossem capacitados e deixassem de ser
apenas uma peça importante na logística de medicamentos nas unidades de
saúde e passassem a lidar diretamente com os pacientes.
“O máximo que a gente fazia era orientar
o paciente sobre como conseguir algum remédio que não estava disponível
na unidade. Eu lidava mais com as caixinhas de medicamentos, porque o
paciente era um dado numa tabela”, relembra a farmacêutica Linda Tieko.
Nas consultas individuais que duram em
média uma hora, os farmacêuticos conversam com os pacientes, em sua
maioria mulheres com idade média de 66 anos identificam problemas
relacionados à prescrição, manipulação, intoxicação e qualidade dos
medicamentos, orientam sobre o uso correto e avaliam a necessidade real
desses medicamentos para a pessoa.
Para o Secretário de Ciência, Tecnologia
e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, a
experiência traz um novo enfoque em que o usuário do SUS, e não o
medicamento é o foco principal do governo federal nesta área. “Esse
projeto é um marco porque integra o médico e o farmacêutico numa
atividade fundamental onde o ensino e o conhecimento são colocados para
ajudar o nosso bem mais precioso que é o cidadão. O Ministério da Saúde
vai continuar garantindo o acesso a medicamentos, mas queremos mostrar
que além de fornecedores nós também somos cuidadores”, explica.
Nos três primeiros meses do projeto, foi
possível identificar que dos 548 pacientes atendidos, 54% deles omitiam
doses dos medicamentos indicados, 34% desistiam do tratamento após
alguma melhora, 33% não respeitavam o horário da medicação e 21% faziam
adição de doses que não estavam prescritas.
Já as principais doenças foram a
hipertensão, diabetes, dislipidemia, obesidade, hipotireoidismo e
depressão. Cada um dos pacientes ingeriam em média sete medicamentos
diferentes ao dia, sendo os mais utilizados ácido acetilsalicílico,
sinvastatina, metforminam, enalapril e omeprazol.
O especialista em Saúde do Bando
Mundial, Esaú Costa, que esteve em algumas das unidades de saúde em
Curitiba para ver de perto como funciona a clínica farmacêutica, se
mostrou entusiasmado com a possibilidade de expansão do projeto. “O que
nós precisamos discutir e avançar são os as consequências dessa
intervenção para o sistema de saúde pública no que se refere à
manipulação dos dados decorrentes do atendimento, como isso impacta as
questões da gestão. Mas é fato que através do Banco Mundial nós temo
espaço ara ampliar esta experiência com outros estados e até com outros
países”.
Toda a experiência da implantação do
projeto em Curitiba está relatada em detalhes na série de cadernos
temáticos intitulados “Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica”. As
publicações orientam a implantação do serviço em qualquer município que
trata dos serviços farmacêuticos na atenção básica à saúde. Os cadernos
estão disponíveis para download na biblioteca virtual do Ministério da
Saúde: Caderno 1. http://bit.ly/1DQdEvZ; Caderno
2: http://bit.ly/1C2iR22 e Caderno 3: http://bit.ly/1v2W66w
Para Seu Cláudio, que já está na sua
quarta consulta farmacêutica, o serviço está aprovado. “A gente se
sente realmente cuidado. Sou ouvido, orientado, não tenho mais medo de
tomar os meus remédios.”
Fonte: Assessoria de Comunicação
Departamento de Assistência
Farmacêutica e Insumos Estratégicos Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos Ministério da Saúde
*Este artigo foi publicado originalmente no site do Conselho Nacional de Secretários de Saúde CONASS em 23/12/2014 (http://www.conass.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3978:ministerio-da-saude-implanta-clinica-farmaceutica-no-sus-&catid=3:noticias&Itemid=12)
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