GOTINHAS DE RIVOTRIL
Por Luiz
Mário Pará Rodrigues*
Como
Farmacêutico todo dia assisto (em todas as interpretações desse verbo –
transitivo direto, indireto e no intransitivo também) mais de uma geração de
pessoas que deixou de contar carneirinhos para contar gotinhas de Rivotril. Por
isso quero dividir uma coisa com vocês.
Eu estava
procurando artigos quando me deparei com o estudo de uma enfermeira
australiana, chamada Bronnie Ware, ela trabalhava com cuidados paliativos em
pacientes terminais, bem ela teve a idéia de catalogar os cinco maiores
arrependimentos de quem está morrendo, o que gerou, essa lista:
- Queria não ter trabalhado tanto.
- Queria ter tido mais contato com meus amigos.
- Queria ter me permitido ser mais feliz.
- Queria ter tido a coragem de expressar meu verdadeiro eu.
- Queria ter vivido uma vida fiel aos meus sonhos, em vez de fazer o que os outros esperavam de mim.
Achei
interessante e resolvi pesquisar um pouco mais (tenho esse problema), bem
descobri o chamado crescimento pós-traumático, que é algo sobre o qual
normalmente não ouvimos falar muito. Geralmente a gente ouve falar só sobre a
desordem do stress pós-traumático. Aqui estão as cinco coisas mais frequentes que
as pessoas com crescimento pós-traumático dizem:
- Minhas prioridades mudaram. Não tenho medo de fazer o que me faz feliz.
- Me sinto mais próximo dos meus amigos e da minha família.
- Me entendo melhor. Sei quem eu realmente sou agora.
- Dei um novo sentido e um novo propósito a minha vida.
- Sou mais capaz de focar nos meus objetivos e sonhos.
Isso soa
familiar? Deveria, pois as cinco características no topo da lista do
crescimento pós-traumático são essencialmente o oposto direto dos cinco maiores
arrependimentos dos que estão no leito de morte. Isso leva pensar, não é mesmo?
Parece que, de alguma forma, um evento traumático pode liberar nossa habilidade
de levar uma vida mais feliz.
Se um evento
traumático não nos condena necessariamente a sofrer indefinidamente e, ao invés
disso, nós podemos usá-lo como um trampolim para liberar nossas melhores
qualidades e nos conduzir a uma vida mais feliz. Será que todos nós e nossos
pacientes, não seriamos capazes de fazer isso por conta própria e sem a ajuda
de medicamentos?
Pense nisso
antes de resolver tomar um medicamento para dormir e outro para acordar, antes
de resolver usar antidepressivos e estimulantes ao mesmo tempo, e antes de usar
ou recomendar um medicamento.
O caminho para
a felicidade não está em nenhuma fórmula ou forma farmacêutica já inventada,
esse caminho passa primeiro pelo autoconhecimento.
Pense nisso.
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